A Revolução do Papel

Com o surgimento dos e-books, muito se têm falado a respeito de uma possível extinção do livro impresso. De um lado, temos aqueles que defendem as vantagens da opção virtual, tais como portabilidade, maior acessibilidade, poder de armazenamento, rapidez na compra, etc. Já do outro lado, os defensores do livro impresso, aqueles que não abdicam do prazer do contato físico com o livro, do toque, de sentir a textura e o cheiro das páginas. Os prós e os contras de cada lado são inúmeros e o futuro do livro feito de papel, para muitos, ainda é imprevisível. Mas, duas notícias recentes e, diga-se de passagem, interessantíssimas, talvez já sinalizem o futuro do livro impresso para os próximos anos.

Numa universidade do Japão, pesquisadores conseguiram transformar papel comum numa tela sensível ao toque. É isso mesmo, um papel interativo que mantém a flexibilidade (veja vídeo aqui). Curioso para saber como isso é possível? Vamos à explicação: “O toque ativa um sensor de pressão de cobre na parte de trás do papel. Isso envia energia elétrica através de fios de prata pintados, que aquece eletrodos feitos de pasta de carbono. Irradia calor através do papel para a tinta que muda de cor na parte superior. A tinta é um cristal líquido e as moléculas dentro dela organizam-se em hélices torcidas quando são aquecidas. A estrutura natural das hélices interage com a luz e reflete apenas alguns comprimentos de onda” (só lembrando que é o comprimento de onda que define a cor). É realmente um material e tanto, com potencial incrível para livros e artistas plásticos.

A segunda notícia, veiculada pela Folha de São Paulo, trata da indiana Editora Tara, composta por dezessete pessoas que formam uma espécie de comunidade, que produz livros totalmente artesanais. Os livros são ilustrados, editados e impressos à mão. A produção é limitada, no máximo 5.000 exemplares por livro. Mas ela vem chamando atenção do mundo inteiro. Foi objeto de cobiça de executivos na Feira de Frankfurt e já foi editado em vários países. No Brasil, a Martins Fontes lançou três títulos (o último chama-se “A Vida na Água”). Na Folha, o editor Alexandre Martins Fontes afirma: “Vejo editoras do mundo todo com um interesse maior em criar objetos que não sejam reproduzíveis no formato digital. Esses livros (da Tara) são tão complexos e difíceis de fazer que são obras de arte, já não são mais só um produto industrial”.

Essa procura pelo diferencial no livro impresso já é passível de ser facilmente notada nas livrarias, na quantidade de edições luxo que vêm surgindo e mesmo em livros comuns que, cada vez mais, nos enchem os olhos. Vejamos o exemplo da nova edição de Guerra e Paz (Tolstoi) pela Cosac Naify: contém um tipo de papel importado (Bibloprint) escolhido a dedo, capa de couro aprazível ao toque e cuja textura lembra “o universo dos materiais das fardas militares”, com belas ilustrações articuladas de tal maneira que o avanço nas páginas imita o movimento das tropas russas e francesas, isso sem falar em vários outros detalhes.

A tendência é mesmo de maior apelo estético nos livros impressos, de fazer o leitor querer ver, tocar, ler, ter. Diante de uma edição como a de Guerra e Paz (Cosac Naify), de um livro da Editora Tara ou e de um possível futuro livro com folhas de papel interativo, dificilmente alguém preferirá o e-book (considerando que edições físicas e virtuais, em geral, têm mantido preços quase que equivalente). Nesse contexto, o livro feito de papel não parece mais ser um dinossauro às vésperas da extinção. Aliás, será mesmo que precisamos ver as versões impressa e virtual como antagônicas, que necessariamente aniquilam uma a outra? Ou será que deveríamos enxergá-las como complementares?

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